Mação, há instantes, do alto do meu sótão.
Sem a anunciada tempestade mas com todo o tempo do mundo para, no sábio dizer de Gil, amigo de um outro blogue, " nos lavarmos de nostalgia a cada manhã que abrimos o blogue."
Bom fim-de-semana para todos.
antónio colaço
O irmão sol renova a manifestação de total solidariedade para com todos os seus amigos leitores madeirenses.
Mas,nesta hora de balanços do que aconteceu, duas tão intrépidas quanto solidárias jovens, Rita e Lina continuam balançadas tentando, dia a dia, minorar o AI DE NÓS de 50 putos ÓRFÃOS de pais com sida no Uganda, uma terra onde a terra treme, a cada minuto que passa, nos abandonados coraçõezitos de milhares de jovens órfãos.
Rita e Lina estão a breves dias de partir para mais uma missão e a azáfama é enorme em levar para aquela parte do mundo mais do que peixe, as tantas canas com que ajudar a pescá-lo.
Passem pelo blog delas - UGANDAPROJECTO - e verão do que falamos!
Um dos instrumentos que, neste momento, poderia ajudar, lá no Uganda, a materializar um sonho do Orfanato, imaginem só, era, nem mais nem menos, do que uma simples câmera de vídeo!
Será que os leitores da ânimo - sim, João Casais, se ainda estivesses connosco sabemos que te esfalfarias todo para ajudar a concretizar este sonho, inspira, ao menos, Onde estás, algum leitor nosso mais abonado!!!! - conseguirão entre si ajudar a materializar este sonho?!
Passem pelo blog e vejam o que podem e como devem proceder!
Obrigado!
antónio colaço
Pe Anselmo Borges
ONDE ESTAVA DEUS NO HAITI ? (II)
Como se lê no documento da Associação de Teólogos João XXIII, aqui citado na semana passada, a pergunta religiosa "onde está Deus no Haiti?" "não é nem pode ser a primeira". Na tragédia do Haiti, converge um conjunto de dados: uma zona sísmica; a mão agressiva do Homem, que desflorestou o Haiti, explorou sem limites as suas reservas naturais e construiu sem o mínimo de segurança; as condições de extrema precariedade em que os colonizadores deixaram o país, a tradição esclavagista, a corrupção generalizada, a ditadura de Governos exploradores, a distribuição injusta dos recursos... O documento observa, criticamente: tudo se afundou, mas o moderno bairro rico de Pétionville, em Port-au-Prince, foi preservado.
A ordem internacional "está montada sobre a concentração da riqueza em 20% da Humanidade e o desamparo de boa parte dela". Governos corruptos, países ricos que os protegem por causa dos seus próprios interesses, tornam alguns povos e Estados incapazes de defender-se de catástrofes naturais. "Sem esta ordem de coisas, a catástrofe teria sido muito menor." Os haitianos são tão pobres que nem possibilidades tinham de receber e distribuir as ajudas que chegavam ao território. Assim, deve-se culpar "a actual ordem internacional que só pode sustentar-se na base do poder económico, político e militar dos países ricos e a persistente corrupção das elites dirigentes do país".
E Deus? Todos temos de mudar, para que não haja mais "Haitis assolados nem Palestinas massacradas nem Auschwitz nem Hiroshimas", e o Deus de Jesus deve ser "o grande acicate de justiça e solidariedade para todos os que se chamam cristãos".
Mas a pergunta atravessa a história do pensamento, e é particularmente dramática para quem acredita no Deus pessoal e criador, omnipotente e infinitamente bom. Deus quis evitar o mal, mas não pôde: então, não é omnipotente. Pôde, mas não quis: então, não é bom. Pôde e quis: então, donde vem o mal?
Aqui, também é necessário perguntar: donde vem o bem? De qualquer modo, as tentativas de resposta sucederam-se. Santo Agostinho e São Tomás de Aquino argumentaram que o mal não existe em si mesmo, pois é só uma privação no bem. Ou então que Deus não quer o mal, apenas o permite como provação e castigo. Pergunta-se: e as crianças inocentes? É por causa do sofrimento das crianças que Dostoievski, em Os Irmãos Karamazov, faz Ivan dizer que entrega o "bilhete de entrada" no mundo. Em A Peste, de A. Camus, o Dr. Rieux diz ao padre que, diante da criança que morre, não pode aceitar Deus.
À famosa Teodiceia (justificação de Deus), de Leibniz, onde se defende que este é o melhor dos mundos possíveis, Voltaire contrapôs ironicamente o seu Cândido e o "Poema sobre o desastre de Lisboa", por causa do terramoto. A. Schopenhauer escreverá que este é o pior dos mundos possíveis.
Hegel dialectizou o sofrimento em Deus: a negatividade é um momento da história de Deus. Um pouco na esteira hegeliana, alguns teólogos falaram de um "Deus sofredor" e, face ao horror do Holocausto, o filósofo judeu Hans Jonas defendeu a impotência de Deus: em Auschwitz, Deus calou-se, "não porque não quis, mas porque não pôde". Pergunta-se: é claro que o poder e a bondade de Deus não podem ser concebidos ao modo humano, mas que ajuda traz um Deus impotente? Deus solidariza-se com o ser humano na cruz de Cristo.
O teólogo A. Torres Queiruga pergunta se não é contraditório pretender pensar um mundo finito sem mal. Face ao mal, que atinge crentes e não crentes, todos têm de viver e justificar a sua fé. E Hans Küng, que reconhece que o mal parece ser "a rocha do ateísmo", pergunta, com razão, na sua última obra Was ich glaube (A minha fé): "O ateísmo explica melhor o mundo" do que a fé em Deus? "No sofrimento inocente, incompreensível, sem sentido, a descrença pode consolar? Como se a razão descrente não encontrasse também neste sofrimento o seu limite! Não, o antiteólogo não está aqui de modo nenhum melhor do que o teólogo."
In Diário e Notícias, hoje.
Pe Anselmo Borges
In DN, 13 FEV 2010
Não há palavras suficientes e sobretudo suficientemente fortes para descrever a tragédia do Haiti: mais de duzentos mil mortos, mais de um milhão de desalojados, fome, pilhagens, órfãos sem conta, rapto de crianças, o desabar de um resto de Estado, o buraco negro e roto do futuro... O horror pura e simplesmente!
E muitos, alto ou lá no íntimo, gritaram: Onde estava Deus, onde está Deus no Haiti? A pergunta constantemente repetida ao longo da História: Onde estava Deus no Gólgota?, onde estava Deus no terramoto de Lisboa, no tsunami da Indonésia?, onde estava Deus em Auschwitz?...
Este clamor acompanha a história da filosofia, desde que Epicuro por volta do ano 300 a. C. e, depois, Pierre Bayle, no iluminismo, atenazaram o pensamento neste domínio. Deus deve ser omnipotente e infinitamente bom. Assim, como explicar o mal? Ou Deus pôde evitá-lo e não quis: então, não é infinitamente bom. Ou quis, mas não pôde: então, não é omnipotente. Ou não pôde nem quis: então, não é Deus. Ou pôde e quis: então, porquê o mal?
As tentativas de resposta sucederam-se. Leibniz inventou inclusivamente a palavra teodiceia, que significa precisamente "justificação de Deus", no Essai de théodicée (Ensaio de teodiceia). Aí, argumentava que este mundo não é óptimo nem perfeito, mas, sendo Deus infinitamente bom, omnipotente e omnisciente, é o melhor dos mundos possíveis. O ensaio foi publicado em 1710, tornando-se quase um manual da Europa culta. Mas bastaram 45 anos - o terramoto de Lisboa foi em 1755 - para que Voltaire ironizasse sobre ele no Cândido ou o Optimismo. E Kant, em 1791, escreveu um pequeno tratado com o título Über das Misslingen aller philosophischen Versuche in der Theodizee (Sobre o fracasso de todas as tentativas filosóficas na teodiceia).
Como pode, de facto, a razão humana finita justificar Deus perante o mal? Aliás, constituiria crueldade cínica avançar para junto de quem sofre os horrores do mal com explicações teóricas. De qualquer modo, frente ao mal, o crente percebe que Deus não é omnipotente nem infinitamente bom ao modo do pensar humano e que afinal a fé é mais um combate do que uma consolação e que esse combate tem a sua prova na praxis solidária com quem sofre.
Num documento sobre a tragédia do Haiti, a Associação de Teólogos João XXIII lamenta que se continue à procura do Deus-relojoeiro de Newton, ajustando a maquinaria do universo, e que não se acabe com o pedido de milagres naturais a Deus - que mande chuva, que evite os tsunamis, que faça prodígios -, um Deus-providência ao nosso serviço, um superpai que nos proteja da natureza e das suas leis, esquecendo que "Deus não interveio para evitar o Gólgota nem Auschwitz nem evitou pestes, fomes e outros desastres".
Em que Deus acreditam então? "Cremos que o mal é também um mistério que dificilmente encaixa na imagem de um Deus omnipotente e misericordioso, sobretudo quando se traduz em sofrimento dos pobres e inocentes." Crêem no Deus que não tem ciúmes do ser humano e lhe deu capacidade criadora - talvez a ciência possa vir a prever os terramotos - e responsabilidade no mundo. Deus defende os pobres e oprimidos e abençoa os que trabalham pela justiça e pela paz.
"Deus não é neutral, está no Haiti nas vítimas e em todas as pessoas que ali trabalham solidariamente", identifica-se com as vítimas, fazendo delas o critério do juízo divino: "Destes-me de comer, de beber, de vestir..." Ninguém tem o direito de falar em seu nome, "só elas e quem partilha os seus sofrimentos. Mas podemos e devemos todos tornar-nos presentes no Haiti, atender às necessidades urgentes dos haitianos e colaborar na sua reconstrução".
Mas não basta. "O Haiti personifica hoje os povos crucificados"; temos todos de mudar, e a referência ao Deus de Jesus há-de ser "o grande acicate de justiça e solidariedade" num mundo cuja ordem internacional "está montada sobre a concentração da riqueza em 20% da humanidade e o desamparo de boa parte dela".
Boa noite!
Foi por coincidência que encontrei o seu blog. E que bem que me fez ver aquela foto a preto e branco do grupo de alunos tirada no recreio dos Capuchinhos!
Estudei lá durante 13 anos (1988-2001), os melhores foram os 4 passados na casa antiga e nos jardins!
Actualmente trabalho na capital da Arábia Saudita e como tenho que fazer uma apresentação sobre Portugal e sobre o meu percurso aos meus colegas, estive a pesquisar fotos dos Capuchinhos! Encontrei a sua e antes encontrei uma, também a preto e branco, da fachada da casa, onde se vê também um dos Franciscanos! Pensava que a casa consistia apenas do edificio que hoje é, mas pela foto pude ver que demoliram uma ala...
Já agora, chamo-me Diana Oliveira
Obrigada pelo blog!
Cumprimentos
NR
Olá Diana, obrigado pelo seu gesto!
Nem sabe como nos ajuda a continuar! Trouxe-nos, aliás, à memória o nosso querido João Casais que, ao tempo, no seu distante Kasakstan era quem, pressentindo algum desânimo, lá aparecia com uma palavra amiga acompanhada de imagens do seu quotidiano!
Quando quiser, estamos disponíveis para publicar imagens dos seus dias aí pelas terras das Arábias!
Pode ser que, com o seu exemplo, as adormecidas vozes dos nossos amigos de aqui ao pé da porta estremeçam e ...acordem.
Muito obrigado!Deus seja Louvado!
antónio colaço
Reparem na riqueza dos adereços, na franqueza dos sorrisos, e depois digam-nos lá, por quê, Senhor, esta dor de não mais os ver por aqui em acção, fazendo do humor uma benção?!
Por quê?!
antónio colaço