Acabadas de fazer para aproveitar três ovos ameaçando terminar o prazo de validade.
Assim, sempre valem para alguma coisa.
No noviciado capuchinho, aqui evocado, tinhamos de aprender a cozinhar.
A minha saudosa Mãe industriou-me na arte das sopas e, no doce, conduziu as minhas mãos para as farófias.
Resultado, o meu alcunha de noviço: Frei Farófias!!!
Sirvam-se!
antónio colaço
Depois do manjar de fresquíssimo peixe na "Taberna dos Cabrões" o pessoal lá rumou até ao Forum Montijo para visitar a exposição A ARTE NÃO EXISTE. A ARTE SOMOS NÓS.
Foto Carlos Rito
Foto Carlos Rito
Convento de Barcelos,Agosto 1968.Tomada de hábito dos Noviços Capuchinhos.
Hoje, tenho a privilegiada visita dos meus amigos Capuchinhos.
Há 45 anos, quando Maio incendiava Paris, a Terra tremia quase desmoronando o velho Convento de Barcelos, o homem descia na Lua e os Superiores impediam-nos o desfrutar desse gigantesco passo, a Checoslováquia era invadida e Salazar caía de uma cadeira que quase ignorámos... nós, adolescentes de 16 anos, professávamos os Vostos Simples de Pobreza, Obediência e Castidade.
Houve, porém, um Voto que, sem o saber, para sempre professámos: o de uma Eterna Amizade!
Cá está, como costuma dizer o meu querido amigo Anselmo Borges, 45 anos depois, voltamos a reencontrarmo-nos: mais logo, para almoçarmos no Convento do.... Montijo!
Obrigado,fradinhos menores de uma figa!!!!
antónio colaço (se quiserem, Frei António de Gavião!!!)
DOU-VOS UMA GRANDE NOTÍCIA:
O Jockin está em grande força inspirativa!!!
E conseguimos, finalmente, converter os ficheiros com que trabalha!!!
Ganda Joaquim Afonso!!!
Vamos tentar ilustrar melhor estas sagas de frades menores!!! 2013 PROMETE!!! Obrigado, Joaquim!!!
antónio josé delgado colaço
EI-LOS QUE PARTEM… (1º acto)
Muito novos e velhos, buscando a sorte noutras paragens, noutras aragens e margens, novos e velhos…
ei-los que partem e… partiram!
Permita-me um prévio aviso: toda e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
A minha focalização narrativa nem sempre seguirá os códigos rígidos da narratologia clássica e sobretudo moderna, nem os códigos da pragmática linguística e das modernas inovações a nível da prosopopeia, simbologia, numerologia, astrologia, horoscopia, fantasmagonia ou outro código obscuro, nem a cronologia e hierarquia dos cronistas - mor, nomeadamente Fernão Lopes, Eanes de Zurara, Garcia de Resende, quaisquer filosofias Kantiana ou Sarteriana da pós modernidade ou corrente sociológica de Durkym ou outras como muito bem nos tentou ensinar, em outrora idos tempos das kalendas gregas, o douto e aspergicamente cuspilento Serafim Ferreira e Silva, resignatário Bispo de Leiria/Fátima.
E, depois deste breve introire in altare dei, temos o mote épico - lírico para o que desde há muito tempo ando para vos contar desinteressadamente, meus prezados e antigos amigos e outros anónimos deste redil incontrolado, se quiserem ter a paciência e a gentileza de ler.
Decorriam os finais dos anos 60 e um grupo de jovens estudantes capuchinhos da cidade invicta, uns já bastante barbados e outros prematuramente imberbes, talvez devido ao clima e geografia das suas diversas e variadas proveniências ou talvez devido às características genéticas dos seus progenitores e sua descendência, ouvindo os altivos, afinados e despertadores cantos, não gregorianos e cacarejos do mundial e famoso, arrebitado e cristalhudo galito de Barcelos, cale-se galão…,rumaram seduzidos ou pelo seu sibilante canto ou pelo canto universal do irmão sol de Francisco de Assis ou outra quimera qualquer, não interessa, até à histórica e bela cidade do Senhor das Cruzes e também dos ditos cujos, que
me perdoem as irmãs galinhas da feira, de Arcozelo e afins, que se chama ainda hoje, Barcelos.
Aí instalados num casarão de arquitectura relativamente moderna e conforto suficiente para um aspirante ao poverelho de Assis, nada mau, depois de distribuídos pelos diversos aposentos do segundo andar, não por sorteio de totoloto, totobola ou recente euro - milhões, nem de acordo com o nível etário da turma, estatura, cor, religião, política ou estatuto dos progenitores, mas sim de acordo com a suprema e franciscana orientação do superior ou mestre. É, assim, como na tropa, meus caros!
Era no tempo e certamente continua a ser hoje uma casa com um elevado estatuto de reconhecido mérito na dita cidade Barcelos, diga-se e com regras e horários bem definidos para o "ora" e muito rigorosos para o "labora".
Dizia eu, aí instalados, iniciámos o nosso percurso de armas, pouca bagagem e desprovidos dos maravilhosos, apetecidos e libidinosos bens do mundo, diga-se à boa maneira da filosofia escolástica, do "século".
E como estávamos desprovidos voluntária ou involuntariamente de quase todos os bens terrenos deste vale de lágrimas, tivemos que nos adaptar à nova realidade e mundo novo.
À semelhança dos nossos antepassados, diga-se do homo – sapiens ou outros mais trombudos e semi-esqueléticos mais ancestrais, lá fomos urdindo a roupagem, indumentária e adereços para a nossa penugem e virginal nudez sempre com a ajuda, não dos famosos costureiros/as, ou esteticistas/naturistas da nossa praça, mas orientados pelo nosso irmão António de Faria, acusando já razoável obesidade natural, não pelo que lhe entrava pela boca dentro, ressalve-se a redundância, mas pelas longas e penitentes horas de oração pelos pecados do mundo, disciplina, trabalho manual/artesanal e alguma fumaça mais adocicada inspirada na cozinha, vulgo POKEY, das terras de Castelo de Faria, do famoso e revolucionário Joaquim Abel Salazar.
Sob sua supervisão meticulosa, qual oficina engenhosa e artística trabalhámos a lã, o fio de metal a ferro e fogo como
os tanoeiros, que martírio e a fazenda das incógnitas e beneméritas fábricas que iria cobrir a nudez narcísica dos nossos corpos iniciáticos e proteger as nossas almas do frio e do calor e porque não dizê-lo, também das eternas penas e labaredas infernais.
Assim, apetrechados e armados como cavaleiros errantes em cativeiro e andantes para o combate e para a batalha, percorríamos os diversos compartimentos mal atapetados e alcatifados, mas confortável aposento. E, claro, também curiosamente íamos ao sótão do casarão, mini museu de santos e santas, verificar o estado das velhas telhas e limpar o pó da barba daqueles e daquelas que renitentemente gostavam de andar mais abandalhados/as e com ar de modernidade e irreverência como os seus fundadores e a meter medo ao susto.
Quando a batalha estava iminente e o combate se aproximava preparávamo-nos arduamente e com muita antecedência, treino e esmero para o que desse e viesse, pois os nossos timoneiros eram muito exigentes e ao mesmo tempo confiantes nas suas tropas, seus instrumentos e estandartes.
Por vezes, a guerra aparentava-se incerta e duvidosa, mas o incentivo, a bravura e optimismo dos nossos generais fazia superar todo e qualquer pontual e efémero desalento.
Quando um soldado humanamente fraquejava e as forças se debilitavam, aí estava a sua generosa mão estendida e a sua voz animadora. Mas, quando muitas vezes o soldado estava quase a sucumbir e a esvair-se nas suas periclitantes forças, os seus pares jubilosamente o reanimavam como se fosse o sopro criador divino ou pitonisa domada pelos deuses.
Muitas batalhas foram travadas intra/extra muros naquela forte e aparente fortificação. Lembro-me, vagamente, que até a sineta do jardim, o carrilhão dos sinos da íngreme e alta torre da igreja tocavam a rebate ao ponto de espantar as muitas pombinhas e seus filhotes e outra passarada exótica bem como a vizinhança adormecida e mais matinal. Os carros de bois e de equestres que passavam nas ruas adjacentes para a feira da cidade pasmavam de tanto alarido e confusão organizada. E veja-se, ainda mais, até o fingido e aparente adormecido rio Cávado se sentia perturbado ao ponto de agitar as suas ondinhas malucas e fazer vir à superfície toda a espécie de peixinhos saltitões e aprendizes de voadores.
Por vezes, eram horas do arco-da-velha e do diabo que os leve, que o digam as velhinhas do hospital, que assídua e carinhosamente visitávamos, os loucos ou finos da casa Hospital de S. João de Deus ou as irmãzinhas de Arcozelo. Um verdadeiro campo de batalha, semelhante ao folclórico campo da feira.
E a vida entrou numa certa e irreverente rotina. Todos os dias levantávamos a nossa humilde e generosa voz, umas mais roucas que outras para os píncaros do firmamento e em altos brados e com grande emoção, entoávamos laudes, matinas e vésperas, hinos e salmos de louvor ao Criador e também com Kyryes eleyson e Tu autem miserere nobis pelas grandes e prodigiosas maravilhas da sua criação, que davam sobejamente para retirar a maldita excomunhão de Papas e Bispos sobre alguns líderes mundiais, teólogos de renome, padres e tantos homens que também são de boa vontade e contrária à Boa Nova de Jesus Cristo, dos Evangelhos e de toda a racionalidade, dizia eu, que se espalhavam miraculosamente por todos os cantos e brechas da casa e faziam eco na estrebaria e corte dos irmãos animais que se situava no perímetro do quintal ao ponto de atordoar todos os ratos e ratas e infelizmente a pacata vida dos tachos e panelas das vizinhas casas e a laboração das fábricas. O nosso canto, por vezes, deslizava para um desencanto, dado que nem todos cantavam afinados pelo mesmo diapasão e alguns pareciam uma cana mal rachada.
Recordo-me seriamente de em fins de Fevereiro de 1969, madrugada alta, sermos surpreendidos e espantados por tamanho e ensurdecedor ruído dentro da santa casa que ficámos todos em sobressalto e em pânico. Uns em pijama, outros em cuecas e alguns mais pudicus nus e semi-nus dirigiram-se apressadamente para o sótão pensando que os santos e santas lá existentes em caixotes e fora deles, em ambiente de perfeita e honesta liberdade e em bons pedestais de madeira firme andassem pecaminosamente ao murro uns aos outros e ao desacato em horas nocturnas de recolhimento sacro e a puxar os cabelos uns aos outros ou outras coisas
mais e outros ainda em ceroulas ou talvez camisa de noite dirigiram-se para as janelas exteriores, não para ver a banda passar, mas para ver as meninas dirigirem-se com cebolas, repolhos, muitos gatos e cães para a feira, pasme-se.
Creio que o nosso superior José da Silva Lopes das terras de Donim, Póvoa de Lanhoso, quase vizinho da minha parvónia, vim a descobrir mais tarde, homem elegante, simpático, magrinho na altitude como eu e a quem a radiografia tinha dificuldades em detectar a parte carnuda, pois a visibilidade óssea e a olho nu era muito esguia e vertebral, por quem sempre nutri e nutro grande admiração como homem e irmão, penso que nunca nos repreendeu verbalmente e nosso irmão mestre Bernardino Ribeiro de boa memória, tá-se bem, tá-se bem, esfregando sempre as mãos quer de Verão quer de Inverno, com ar mais abatido e carrancudo, pois tinha a responsabilidade de orientar os carneiros irreverentes e de difícil amansamento, quais pais exigentes e muito humanistas, se dirigiram apressadamente para o quintal de faca e alguidar debaixo do braço para apaziguar a dispersa e sobressaltada bicharada. Obrigado, grandes homens!
Dizia eu, o Lino Margarida, salvo erro, enrolado em lençóis de linho tosco e cobertores esfarrapados e dando pontapés em penicos e outros objectos estridentes ou tocando a sua sineta e com os cabelos em pé, gritava histericamente no interior do seu quarto com fendas e largas rachas, por socorro, socorro e invocava perdidamente nossa senhora dos aflitos, nossa senhora da Guia e todos os santos e santas de Barcelos e arredores e insistia também desalmada e veementemente em Nossa Senhora de Fátima salvai-nos, salvai-nos, salvai Portugal até à exaustão ao ponto de obrigar prematuramente o seu vizinho de cela Agostinho Henriques Vaz a acordar estremunhado e mal disposto e a responder-lhe áspera, dura e piamente: Ora pro nobis, ora pro nobis, ora pró….ca…!
O Acílio Dias Mendes atrapalhado com os engastalhados sustenidos e bemóis, pautas e notas a querer atrevida e desobedientemente sair da paralela pauta, colcheias e semi-colcheias quase a explodir e a fusa e semi - infusa a escapulir-se para a tasca de vinho verde tinto vizinha quase noética e genesicamente a ebriar-se como os seus bíblicos antepassados, si não, não dó música e quase a atingir o coma,
os tambores dos zés pereiras, catrapum, catrapum, pum, pum, cítaras, tímbalos sonoros e trombetas retumbantes, tudo já a ficar destruído e com tanta algazarra e ainda mais com dificuldades em articular o dó com o sol, o mi com o ré, sem si nem dó nem piedade, si, fá, lá a pandeireta rebolando no chão e o piano a ficar sufocado e desafinado com tanta martelada nas suas brancas e pretas teclas para não dizer o velho órgão, todos os instrumentos já aglutinados e a música inacabada para o dia solene que se avizinhava a ficar comprometido, o homem de Deus enraivecido com aquela estranha orquestra de tanta balbúrdia e dessincronizada teve que bradar aos céus e mandar calar aqueles gritos e cantos desesperados com baldes e baldes de água fria, tal era o tumulto em casa que devia ser de esmerado e sentencioso silêncio e paz.
O irmão Evangelista já provecto e reboliço, dependente e desesperado com a inesperada situação, talvez por causa do excesso de gases lacrimogénicos das artilharias ordinárias e belicamente usadas e enferrujadas, todos sabem que algumas peças do armamento vão ficando gastas pelo tempo e pelo desgaste e sem dúvida alguma mais entorpecidas para os inimigos como refugo e fumaças das malcheirosas lixeiras tóxicas e fuzilamentos sangrentos e cruéis da guerra civil de Espanha, que o diga a Guernica do genial Picasso, gritava arregaladamente pelos seus pinches ao ponto de ter que ser arrastado in extremis da cama fedorenta em padiola pelas escadas abaixo e puxado muito a custo por duas juntas de bois amestrados, as vacas estavam a amamentar os bezerros e pelos caritativos e sempre vigilantes pinches, Firmino dos Santos, Carlos Rito Dias e Agostinho Henriques Vaz para o reduzido, paradisíaco e às vezes ciclístico e divertido quintal, tanta era a aflição e comichão provocada pelas invisíveis pulgas, melgas, moscas, mosquitos, moscardos e carrapatos naquela vetusta e antiquada barba que mais parecia o ancião do Restelo, não a caminho de Belém de Judá, mas do galo depenado de Barcelos, depois de ter levado pela penugem uns valentes baldes de água quente trazidos pelos bombeiros voluntários de Barcelos e Barcelinhos do próximo rio Cávado, para já não falar do grande e inesperado susto do terramoto medonho, equivalente quase a um apocalipse now ou tsunamy a tender para um delirium tremens.
O outro irmão, inter pares, de que infelizmente não me recordo do nome, neste momento, certamente um foragido não identificado sei de lá de onde, talvez da guerra ou do mar, cansado de tanto nadar e naufragar e ainda com as mínimas forças ter a lucidez e heroísmo de salvar uma canastra de sardinhas ou fanecas ou Os Lusíadas à maneira camoniana ou outra acção épica incógnita e estrategicamente inenarrada nos anais e crónicas existentes na biblioteca consultada e devidamente vigiada por um outro, que de Espanha veio, mas que treta de espanhóis, muito letrado, sapientemente galego a quem muitas vezes eu e os outros comparsas mais assiduamente levávamos o manjar e tratávamos da sua higiene exterior e interior, com muita pudícia e água fria, menos da sua virginal, narcísica, pelicêntrica e enorme barba escura e a desbotar para a cor marfim, cheia de muita e saudável porcaria, mas este tinha o distinto privilégio do Carlos Rito Dias como perito e barbeiro solicito utilizando com arte e engenho artístico e devido recato os instrumentos mais modernos da arte de pincelar e barbear, como seja a tonsura, vulgo tesoura.
O facto era deveras muito sério, mais sério que o Sério Constantino Pereira. Um violento terramoto assolava todo o Continente Português e claro está, nem o galo de Barcelos cacarejando em alto e bom som e fardado de cardeal na cor, escaparia e nos salvaria.
Várias vezes e para amenizar a rotina e clausura íamos passear pela ruas da cidade, visitar os enfermos do hospital e velhinhas do asilo, cantar ofícios fúnebres, pois ninguém é imortal, ensaiar no coral do Acílio Mendes, jogar à bola a S. João de Deus, ajudar as freirinhas de Arcozelo, observar as pontes rodo - ferroviárias sobre o rio Cávado e, por fim, dar banho à minhoca.
Mais raras vezes fazíamos umas maratonas pelas povoações e cidades vizinhas. Mas, numa dessas maratonas a pé e a pedir, com escassos escudos, dois grupos de destemidos enclausurados resolveu ir conhecer e visitar a cidade de Braga. Lançaram-se ao caminho, penso que numa Quinta-Feira, não a do terramoto e aí vão eles a atravessar a ponte sobre o rio Cávado em direcção a Barcelinhos. Adiantados uns
e já na estrada que levava à cidade dos arcebispos, resolveram aprender a pedir boleia, inteligentes!
Aí estacaram e começaram a esticar, a esticar, esticar o braço e a perna, quais amadores karatékas. Uma hora, duas horas e meia e sempre no mesmo sítio a ver passar navios, aviões, carros de bois, carroças, procissões de ciganos, carros, camiões, bicicletas, motorizadas, homens e mulheres e infelizmente nada. Quando, subitamente e já extenuados de tanta e pueril pasmaceira e desconsideração, o meu comparsa de olho vivo e pé ligeiro repara que o outro grupo mais expedito aparece ao longe dentro de um luxuoso carro azul conduzido por uma bela e jovem mulher em direcção a nós e pára. Que sorte e que vergonha!
Aproximaram-se respectivamente o Agostinho Henriques Vaz e o Carlos Rito Dias e perguntaram: - os senhores que aqui se encontram na berma da estrada, querem boleia? – Sim, senhor, queremos, mas para Braga, respondemos. – Muito bem, então aprendam a pedir boleia, seus parolos! Vocês devem fazer assim, assim e assado - gesticulando em modos que metiam medo – se não fizerem assim, assim…não conseguem nada, ouviram seus putos? – Obrigado, respondemos.
Eu e o António José Delgado Colaço, na altura cognominado de Tozé, depois de vermos estes brutos distanciados começámos novamente a insistir na boleia, mas por mais malabarismos e diabruras físicas, curvas e contra curvas corporais, acenos e gestos de mão, de joelhos, de cócoras, de pernas e de tudo… os malfadados motoristas riam-se até às orelhas da nossa caricata postura estática e deslizavam ainda com mais velocidade.
Bom, democraticamente concluímos que metíamos medo ao susto e o melhor era pormo-nos a caminho e no…a pão e água. Dito e feito. Mas, no último instante da nossa reflectida decisão passa uma carrocinha de humilde lavrador puxada por um cavalo lusitano raquítico e em altivos uivos e zurros que surpreendente e gentilmente nos oferece boleia.
Bem, nós olhando de soslaio um para o outro, dissemos de pé, mas muito baixinho e em bom som: - Não, não, não vamos descer de cavalo para burro…
E, lá fomos até Braga, mas apenas só tivemos tempo de olhar por um esquisito e velho canudo já com a lenta muito deteriorada, entupida na extremidade por selvajaria ou falta de assistência ou devido ao frequente uso dos turistas nacionais e estrangeiros e também estava muito nevoeiro e o dia chuvoso e aquelas igrejas e catedrais centenárias, penso que nalguns pátios cimeiros vislumbrámos a veranear corcundos e carrancudos bispos, monsenhores e cónegos da Sé à boa guisa medieval e com binóculos chineses, não sei com que curiosidade, mas observando atentamente os estragos causados pelo terramoto nas suas igrejas e belas paisagens, mas tivemos forçosamente de regressar a pé e quase de sulipas da Braccara Augusta à terra do galo!
E, quanto ao outro grupo, apenas vos sei dizer que passou a grande velocidade à nossa frente, com grande ciúme e tristeza penso que nossa, acompanhado de uma bela e rica mulher rumo a parte incerta, rindo, gesticulando e cantando desalmadamente da nossa pobreza franciscana.
Os outros grupos constituídos pelo nosso grande, atlético e idóneo João Maria Teixeira que de latim e música nos dava música e latim e também artes marciais africanas, Agostinho de Jesus Mendes, Lino Margarida Gaulês, Firmino Ribeiro dos Santos e José Ribeiro Preto, vim a saber mais tarde e por vias muito travessas que teriam conseguido apanhar também boleia em carros vermelhos de alta cilindrada, conduzidos por umas belas turistas sazonais, diziam que eram altas e experientes meretrizes suecas a passar férias em território lusitano e que devida a ausência de guias, escolhiam cicerones inexperientes para lhes ensinar a arte de bem conduzir o veículo e, por fim, que terão comprado umas canas em segunda mão, num canavial perto de Esposende, A Ver O Mar ou Fão para ir aprender à pesca artesanal e sobretudo submarina sem tubos de ensaio, mas que não conseguiram fazer o milagre dos peixes, consta-se, por não haver isco suficiente nas lojas e infelizmente no armazém e que apenas só puderam dar banhito à minhoca, é o que se diz.
Sei que alguns dos meus comparsas andam acabrunhados e apreensivos com a crise já iminente e outros certamente, ao ponto de ciliciarem o cérebro e os seus neurónios resistentes com a invasão arrogante, descarada e inglória da Troyka estrangeira, mas se não conseguirem até hoje os 69 euros com a mão direita pelos menos tentem os 68 escudos com a mão esquerda, já dizia Sócrates, o velho e sábio grego e troiano que sei que nada sei, mas dentro daquilo que sei, sei mais do que aqueles que nada sabem.
Uff, que esta maiêutica quase me levou às campainhas da glória, à boca do inferno e quase me atirou à porta inferi.
Que o ano de 69, mítico, místico, épico e lírico permaneça per omnnia saecula saeculorum, in aeternum!
E, esta, hein!
Joaquim Afonso