"Deliciei-me a ver a reportagem da nossa ida ao Montijo.
Quarenta e cinco anos são uma vida e às vezes não nos damos conta disso, pois eles passaram a correr.
Parece que ainda revivo o instante em que, carregados de ilusões e ideais, com o coração a fervilhar de projectos franciscanos, "putos reguilas, arejados e contestatários" numa época de rupturas e crescimentos a todos os níveis, atravessamos a portaria do convento de Barcelos e o Frei "Pock" (Deus o guarde, bom amigo!) nos introduziu numa casa misteriosa e de mistérios noviciáticos, para um ano de prova, onde queríamos provar, talvez a totalidade, dos sonhos que fomos construindo.
Ainda no Amial (às vezes esquecemo-nos desta fase e das sua imensas e recambolescas peripécias, pois foi ali que esta saudosa, longa e fraterna amizade começou), o ir para o noviciado era um "conto de fadas", uma meta a atingir, uma santidade a conseguir, um mundo na mão por descobrir. Bem, depois foi o que de bom vivemos (e foi tanto e tão belo!) e a crueldade de descobrirmos que, afinal, há muitos caminhos na vida e que cada um traça o seu, nem que isso implique as dores da separação. Foi o Ribeiro, o Zé Maria, o Rito...foram as saudades da separação que a nossa consciência ainda em gestação talvez ainda não atingisse bem...foi o ficarmos cada vez mais pobres e empobrecidos...foi o limitar das nossas aventuras e desventuras de uma novela que ia ficando com menos personagens e menos rica...foi a solidão que se foi instalando...foi a saudade que foi crescendo...crescendo até ao Montijo... e crescendo, crescendo depois do Montijo...crescendo e crescendo até à eternidade que um dia nos há-de bater à porta e que levaremos para sempre porque ela é indestrutível, porque é de Deus.
Com caminhos diferentes percorridos (mais ou menos felizes, com mais ou menos pedras), temos um caminho comum a percorrer e havemos de trilhá-lo sempre, sem nos cansarmos, apoiando-nos no que é possível apoiar, amparando-nos, para que nenhum se perca ou sinta só no que resta da caminhada. Talvez daqui a mais quarenta e cinco anos, tenhamos um novo "Montijo", já não de saudade, mas de felicidade e presença constante, sem nos termos de separar, um concretizar dos sonhos que se cruzaram connosco e que, afinal, eram concretizáveis...só não sabíamos quando!
Bom amigo e irmão, obrigado por seres quem és...obrigado pela tua extraordinária e fiel amizade!"
João Teixeira