Meu querido Frei Joaquim de Serafão, simplesmente, sei que agora, finalmente, compreende como gostava de si, sabendo que nem sempre tive a certeza de que gostaria de mim.
Não encontrei melhor foto para deixar aqui expresso este pequeno desabafo de como a sua "passagem" não me é, de todo, indiferente.
Só eu sei o respeito intelectual que me mereciam as suas reflexões quer dominicais quer lectivas.
Mas o meu amigo fazia questão de cultivar a solidão da sua cela, e tantas vezes me apeteceu dialogar consigo sobre o que ouvia.
Sei que nessa cela, algumas vezes, houve lugar para o incómodo com o meu piano que ousava tocar no refeitório do Convento do Ameal. E mesmo a pintura, que então, timidamente, ousava, música e pintura, assim juntas, terão merecido da sua parte alguma consideração menos abonatória quanto ao meu investimento no estudo da sua Teologia.
Errado, Frei Joaquim de Serafão - também o outro Frei Joaquim, de boa memória, demorou a compreender esse meu lado - eu só queria viver a alegria do meu mestre Francisco de Assis, nosso mestre, aliás, mas que, em si, não encontrava, por esse lado, tanta adesão.
Hoje, a prova de que a minha admiração por si era genuína, apesar de, como dizer, contida, aqui está.
Gostei de o conhecer mesmo sabendo que, lá no fundo, os dois ou três sorrisos que me esboçou permanceram para sempre bem vivos.
Obrigado, Frei Joaquim de Serafão.
Frei António de Gavião!!!
________________________________________
FREI JOAQUIM MONTEIRO OfmCap.
A Província Portuguesa dos Franciscanos Capuchinhos,
partilha com todos os amigos a notícia da Ressurreição do Frei
Joaquim Monteiro.
Todos juntos celebraremos a Eucaristia de Acção de Graças,
na Igreja dos Capuchinhos do Amial (Porto), hoje, sexta-feira
pelas 14.30. O funeral seguirá depois para o cemitério de
Paranhos onde será sepultado.
Voltaremos a reunir-nos para celebrar e agradecer ao Senhor
o dom da vida do Frei Joaquim Monteiro, no próximo dia 13
de Maio pelas 19.00.
Frei JOAQUIM MONTEIRO
[1934 – 2015]
80 anos de Vida | 62 de Vida Religiosa | 56 de Sacerdócio
Fr. Joaquim Monteiro, filho de Manuel Monteiro e de Custódia Maria da Costa Ramos, nasceu em Serafão, concelho de Fafe, a 29 de Julho de 1934. É irmão do saudoso D. António Monteiro [+ 2004], capuchinho e Bispo de Viseu. Entrou para o Seminário dos Capuchinhos no Porto a 3 de Outubro de 1947. Vestiu o hábito na Ordem dos Franciscanos Capuchinhos a 1 de Agosto de 1951 e a 6 de Agosto de 1952 fez a sua Profissão temporária dos votos religiosos, emitindo a Profissão perpétua em Salamanca, a 10 de Agosto de 1955. A 21 de Fevereiro de 1959, na Catedral de Salamanca, foi ordenado sacerdote por Dom Francisco Barbado Viejo. Fez os seus estudos superiores em Salamanca, de 1955 a 1959, obtendo na Universidade Pontifícia, em 1960, a Licenciatura em Teologia.
Integrou quase sempre a Fraternidade do Porto, tendo passado também por Barcelos e Gondomar. Foi Director das revistas «Paz e Bem» (1960-1969) e «Bíblica» (1978-1987), onde deixou dezenas de artigos publicados, particularmente nesta última. Foi da sua iniciativa terem-se iniciado na revista BÍBLICA os comentários às Leituras Dominicais, a partir de 1978.
Algumas publicações do Fr. Joaquim Monteiro:
– «Dinamização Bíblica do Povo de Deus», Difusora Bíblica, Lisboa, 1978, 204 págs.; «O mistério da Igreja no Itinerário Catecumenal», Telos, Porto, 1986, 96 págs.; Alguns estudos científicos publicados em separatas, como: «Eclesiologia e eclesiologias», Porto, 1981, 47 p., Humanística e Teologia, t. II, f. 1), «Itinerário espiritual de São Francisco de Assis», Porto, 1981, 40 p., Humanística e Teologia, t. II, f. 3), «O Diabo na teologia e a teologia do Diabo», Porto, 1984, 56 p., Humanística e Teologia, t. V, f. 1), «A dinâmica mística da Vida Espiritual», Porto, 1987, 48 p., Humanística e Teologia, t. VIII, f. 1.
Esteve ainda na base da elaboração dos conteúdos para o I e II Cursos de Dinamização Bíblica, iniciados em 1975. Tem dedicado a sua vida, sobretudo, ao ensino, como professor de Teologia, leccionando diversas disciplinas, primeiro no Centro de Estudos da Ordem, no Porto, depois no ISET (Instituto Superior de Estudos Teológicos), criado para os alunos de todos os Institutos Religiosos do Norte, a seguir, no ICHT (Instituto de Ciências Humanas e Teológicas), fundado no Porto para Religiosos e diocesanos e, finalmente, na Universidade Católica, no Porto (recebeu a jubilação a 17/06/2004, em sessão solene na UCP-Porto).
Durante alguns anos foi também director do CER (Centro de Estudos para Religiosas) e, de 1978 a 1981, exerceu, ainda, o cargo de Director dos Estudantes de Teologia da Ordem em Portugal. Foi eleito Definidor para o Governo da Província Portuguesa dos Franciscanos Capuchinhos para os triénios de 1975-1978 (III Capítulo Provincial); 1978-1981 (VI Capítulo Provincial); e 1987-1990 (VIII Capítulo Provincial).
Trabalhou em vários Movimentos eclesiais, como os Cursos de Cristandade, a Catequese, as Equipas de Casais e Grupos de Base, entre outros. Tem sido chamado a orientar vários Capítulos Provinciais de Irmãs Religiosas, destacando-se igualmente na orientação de Retiros, quer ao clero, quer a congregações religiosas. Como teólogo, é bastante solicitado, tendo sido encarregado de examinar os escritos da Venerável Irmã Rita de Jesus, em ordem ao processo de beatificação (foi beatificada em Viseu, em 2006). Ainda como conferencista, tem sido chamado várias vezes a dar a sua colaboração nas Semanas Bíblicas (regionais e nacionais). O Fr. Joaquim Monteiro dedicou praticamente toda a sua vida ao estudo e ao ensino da teologia. Por este motivo, a Universidade Católica, em 2004 (17 de Junho), prestou-lhe uma justa homenagem (ver texto no final).
Testemunho do Fr. Joaquim Monteiro
nas suas Bodas de Ouro Sacerdotais (Mira, 15-04-2009)
Para quem ainda não sabe, eu vim para esta forma de vida, vim para padre, porque o Senhor me apareceu! Na ocasião, sei onde é que foi: foi por intercessão de Nossa Senhora do Sameiro. O Senhor apareceu-me e foi-me orientando. De muitas maneiras. E eu, o padre que sou, sou porque Cristo está em mim.
A certa altura da minha vida comecei a descobrir que, afinal, quem me tinha chamado era Ele, e eu comecei a dizer a muita gente que, pela Páscoa, se não acreditassem noutras testemunhas, soubessem que eu sou o padre de Cristo: estou aqui porque Cristo Ressuscitou. E está em mim.
Há coisas na vida do padre que, quando a gente começa a meditar a sério, são extraordinárias. Quando a gente começa, em nome d’Ele, e Ele a fazer por nós, diante do Povo de Deus, a dizer o prodígio “Isto é o Meu Corpo”: é o Senhor a servir-se das nossas mãos, dos nossos lábios… mas é o Senhor!
Quando a gente vai proclamar diante de um pecador arrependido, “eu te absolvo dos teus pecados”, aquele homem ou aquela mulher a regozijar-se… é o Senhor que faz
isso pelos seus padres. E também quando vem alguma tristeza, começamos a pensar no Senhor que age em nós, Ele torna os padres participantes das Suas próprias alegrias. De modo que, a vida do padre, é sempre a vida pascal do Senhor, Ele é a fonte das nossas alegrias.
E aquele que me chamou a mim, chamou também a vocês: eu não posso olhar para vocês e procurar outras explicações senão esta. E, amanhã, saberá chamar outros, não sei lá como, mas tenho essa certeza, essa luz interior que o Senhor gerou em mim: são os padres do Senhor, do Senhor Ressuscitado!
Por isso, direi sempre bem do Senhor que me chamou, e não vou ter medo de nada, porque Ele está em mim, a fazer o que já fez em 50 anos.
E também O descobri nos outros. Encontrei padres muito santos, que a gente olhava e descobria neles a presença do Ressuscitado; e isso dava-nos energia pois, muitas vezes, era o próprio Senhor que nos aparecia através deles.
Termino, agradecendo a vossa oração de acção de graças que vós fazeis ao Senhor dos Padres e ao Senhor que me chama para O seguir.
E eu já agradeci ao Senhor por aqueles que rezaram por mim, porque eu sou fruto da oração daqueles que rezavam pelos Padres ao Senhor.
E o Senhor respondeu dando a mim a felicidade de ser Padre e não estar arrependido. Vocês admiram-se mas, como já disse no Amial, eu também tenho o direito de derramar lágrimas da minha Fé: e não são de tristeza, mas são lágrimas da alegria de quem se sente muito bem com o seu Senhor e com aqueles que o Senhor tem colocado ao redor de mim, no convento e fora do convento e são muitos.
Esperemos estar todos no Céu como agora estamos na Terra! u
«Voz Portucalense» (16.06.2004)
“Liberdade e criatividade franciscana”
«Frei Joaquim Monteiro consagrou a quase totalidade da sua vida ao estudo e ao ensino da teologia. Gerações e gerações de alunos que ajudou a formar, e que carinhosamente o tratam por “Mestre”, testemunham a sua liberdade e criatividade no ensino e no tratamento dos assuntos.
Ao completar setenta anos, Frei Joaquim merece a jubilação pelo seu labor incansável de formar na liberdade e para a liberdade. Nisso, assimilou profundamente o espírito de Francisco de Assis, espírito que transparece em toda a sua vida. O melhor que se pode dizer de alguém que ensina teologia é que é um crente. Tal se pode dizer de Frei Joaquim. E por isso, todas as escolas de teologia que houve no Porto e a que esteve ligado lhe estão gratas por várias dezenas de anos de labor.
O trabalho de Frei Joaquim reflecte o seu franciscanismo noutros aspectos, como sejam o esforço de olhar incessantemente para as fontes bíblicas da fé, à procura de Jesus, na simplicidade da sua pessoa e do seu programa, para lá de séculos e séculos de uma tradição, discutível em muitos aspectos. Com essa frescura originária da fé, procurou Frei Joaquim confrontar os seus alunos. Muitos deles agradecem-lhe essa ligação entre teologia e espiritualidade e penitenciam-se de não ter sido capazes de compreender e viver o programa de liberdade, mesmo quanto à forma de prestação de contas de avaliação (exames), que promovia de forma tão responsabilizante.
A integração de Frei Joaquim no corpo de professores na Faculdade de Teologia e nas escolas que a precederam, no Porto, mostra uma opção pela pluralidade de proveniências de docentes e estudantes, que é uma grande riqueza destas escolas. Isso enriquece muito uns outros.
Na hora de ver jubilar-se Frei Joaquim, é justa a gratidão pelo património que nos deixa, e é devida a expectativa de ver continuada a tradição de um contributo de franciscanismo na Faculdade de Teologia.»
JORGE TEIXEIRA DA CUNHA