Bom Dia,
Com Paz e Alegria!
Com o abraço de Paz e Bem,
vai esta «FLORINHA FRANCISCANA»,
colhida no jardim de Barcelos.
frei Acílio
Florinha Franciscana
Mário Soares, Francisco de Assis e Frei Acílio
De como frei Acílio foi nomeado Arcipreste de Barcelos pelo Dr. Mário Soares
A Câmara Municipal de Barcelos organiza, durante este ano, um ciclo de conferências sobre «o Diálogo Inter-religioso, Consciência e Religiões –Perspectivas».
O pontapé de saída foi dado pelo Dr. Mário Soares, Presidente da Comissão de Liberdade Religiosa. Foi no dia 30 de Janeiro, numa conferência que suscitou o interesse das pessoas que enchiam o Auditório Municipal de Barcelos.
Num texto escrito, o ex-Presidente da República começou por abordar a origem das religiões, salientando a resposta que elas deverão dar às prementes questões que inquietam a consciência humana: Quem somos? De onde vimos? Para onde vamos? Qual o sentido da vida e da morte?
Todos sabem que sou agnóstico. Não sou ateu. Um verdadeiro ateu tem razões para negar Deus. Eu não encontrei essas razões. Sei que a fé é uma graça divina. Eu nunca fui tocado por essa graça. Custa-me acreditar num Deus antropomórfico, muito à imagem do homem, que se entretém a espiar as acções das pessoas, convidando umas para a bem-aventurança, atirando outras para o inferno.
O Dr. Mário Soares apresentou, em síntese, um recorrido pela história, focando mais o mundo ocidental, desde a «conversão» de Constantino, assumindo o cristianismo como a religião do Império Romano, passando a Igreja de comunidade perseguida a instituição perseguidora.
Houve épocas em que as três religiões do Livro – Judaísmo, Catolicismo e Islamismo – conviveram pacificamente. Um símbolo deste enriquecimento mútuo acontece em Córdova. Não esqueçamos que foi o papa Alexandre III que concedeu o título de rei ao nosso D. Afonso Henriques.
O conflito entre as interpretações bíblicas e o caso Galileu, com a revolução do heliocentrismo, em detrimento do geocentrismo. Nos séculos XVII e XVIII houve grandes progressos científicos. No século XIX, novo conflito entre a ciência e a Igreja, com a teoria evolucionista de Darwin e o criacionismo bíblico. A primeira lei da separação do Estado e Igreja foi promulgada na França, em 1905. Portugal vem logo em segundo lugar, em 1911, um ano após a implantação da República. Nesse tempo o clericalismo era muito forte e influente, provocando um fortíssimo anti-clericalismo, liderado por Afonso Costa. A Igreja regressa à política com os acontecimentos de Fátima, em 1917. Em 1921 o «Partido da Igreja» (com Salazar) tem assento no Parlamento Nacional. Em 28 de Maio de 1926 é imposta uma ditadura que permanece ao longo de 48 anos.
Sempre houve na Igreja – na Igreja Católica, dado que às outras Igrejas não eram reconhecidos os mesmos direitos – muitas figuras de vulto que viveram e lutaram por valores humanistas e democráticos, pelos direitos humanos e pela justiça social. Por exemplo, o Padre Joaquim Alves Correia [Missionário Espiritano] com o seu livro «A largueza do Reino de Deus», o Padre Abel Varzim e as questões sociais, o bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, e a sua corajosa Carta a Salazar, após a farsa eleitoral com a derrota do General Humberto Delgado…
O Concílio Vaticano II trouxe grandes avanços na linha do ecumenismo, do diálogo inter-religioso e com todas as pessoas de boa vontade, assim como o reconhecimento da autonomia das realidades terrestres e da ciência e da cultura…
Em 1974 vivemos a Revolução de Abril, com a implantação da II República. De modo algum queríamos repetir agora os erros da I República. Por isso, como Ministro dos Negócios Estrangeiros, encontrei-me com o Núncio Apostólico e com o Cardeal D. António Ribeiro. Houve sempre diálogo e o necessário consenso em questões mais sensíveis.
Com a liberdade da Revolução dos Cravos e com a realidade social da imigração (Portugal passou de País de emigrantes a País de imigrantes), as grandes religiões passaram a ter mais visibilidade em Portugal – coisa que só acontece nos países democráticos. Realidade bem diferente é o fenómeno das seitas que, a coberto de questões religiosas, vão extorquindo o dinheiro aos seus fiéis. Também diferente é o terrorismo político, por vezes com aparências de religião. É verdade que, ainda hoje, temos alguns governos teocráticos, mas apenas no mundo islâmico, como no Irão, por exemplo.
Hoje, as grandes religiões abraçam o diálogo inter-religioso, deixando de lado o fanatismo. Eu aprendi muito nos trabalhos com a Comunidade de Santo Egídio, em Roma. Hoje caminhamos para o diálogo e a aliança das civilizações.»
… E houve um tempo para perguntas e intervenções dos participantes. Achei por bem intervir. Mais ou menos nestes termos:
«Sou franciscano capuchinho, sacerdote – frei Acílio. De passagem por Barcelos. Não pretendo levantar qualquer questão, ou formular perguntas. Apenas sublinhar alguns valores. Aproveito para agradecer à Câmara de Barcelos esta excelente iniciativa cultural. Posso fazê-lo em nome dos Franciscanos Capuchinhos, presentes em Barcelos hà 75 anos e que sempre mantiveram com a Câmara uma atitude de mútua colaboração. Quero também agradecer ao Dr. Mário Soares este sintético, mas oportuno e elucidativo roteiro pelos caminhos da liberdade e do diálogo inter-religioso.
Sou franciscano. Sei que o Sr. Dr. Mário Soares participou nalguns Encontros Ecuménicos em Assis, uma arrojada iniciativa profética do papa João Paulo II, que ele mesmo baptizou de «Espírito de Assis». Nesta quarta-feira, o papa Bento XVI, na audiência geral, na sua alocução para muitos milhares de fiéis que acorrem à Praça de São Pedro, apresentou São Francisco de Assis como o santo que «continua a fascínar inúmeras pessoas de todas as idades e credos religiosos». E vê em Francisco de Assis o modelo de diálogo inter-religioso para nós, hoje. Numa época em que a Igreja, para «libertar umas pedras», organizava as Cruzadas, matando miuros e infiéis sarracenos, Francisco de Assis, diz textualmente o papa: «foi até às terras sob o domínio do Islão, armado somente com a sua fé e mansidão, conseguindo estabelecer um diálogo frutuoso com os muçulmanos, o qual ainda hoje é modelo para nós».
Alegra-me também que o Dr. Mário Soares, na resposta a uma questão acerca do confronto entre o Islamismo e o Cristianismo ocidental, tenha apontado para métodos e fins mais humanistas. Não se trata de saber quem deve ceder, mas apelando à necessidade de aprender a coexistir e a conviver. Peço desculpa da comparação. Mas nós não somos como os bois das «chegas» de Montalegre, em que o confronto só termina com a humilhante desistência de um dos beligerantes…O diálogo inter-religioso é fundamental para a liberdade pessoal, a convivência social e a salvaguarda da criação.
Não faço perguntas. Reafirmo valores. Bem-haja. Sr. Presidente da Câmara! Bem-haja, Sr. Dr. Mário Soares!
O Dr. Mário Soares começou por agradecer ao «senhor Arcipreste de Barcelos». E é desta feita que, por uns segundos, o frei Acílio é «arcipreste de Barcelos». Desfeito o equívoco, o Dr. Mário Soares, acrescenta mais alguns dados:
Participei com emoção nos Encontros de Assis. Naquele tempo, eu ainda percebia pouco de religiões. Mas sempre admirei a «grandeza dos franciscanos». Já disse que meu pai tinha sido padre. Agora digo mais: ele também era franciscano. Quando eu era Primeiro Ministro, a Irmandade dos Franciscanos [da Luz] convidou-me para um almoço no seu convento. Um frade de idade avançada ofereceu-me um precioso documento. Meu pai, antes de se casar pela Igreja – com todas as licenças do Vaticano – fez ali uns dias de reflexão, escrevendo, no fim, as suas impressões. Foi este documento que os frades me entregaram e que eu guardo com muito carinho. Quando meu pai faleceu, deixou-me uma carta a pedir que, após a sua morte, fossem celebradas umas quantas Missas por ele, além de outras obrigações. E tudo se fez como ele pediu.
Agradeço ao senhor padre franciscano a evocação do Encontro de Assis, onde muito aprendi.
Em louvor de Cristo e do seu servo Francisco,
Barcelos, 30 de Janeiro de 2010
frei Acílio Mendes