...alguém disse que devia parar, que corria o risco de estar a transformar aquilo que foi muito grave num gratuito show off a rondar o pior dos mais sensacionalistas jornais de banca e tv.e eu só queria dar conta desta irreprimível alegria por ter estado tão perto da morte e ter podido regressar para contar a minha sorte quem sabe assim poderia ajudar a que outros desistissem de lá chegar.e depois, é assim,achar que Deus me queria receber, assim, entre vidros partidos chapas desintegradas e incêndios adivinhados, mas quem te julgas, um predestinado com quem Deus resolveu brincar aos acidentes na A1,logo no km 58.5, para dizeres em seguida que é a combinação de algarismos que te possibilitou a aposentada e penalizada benfeitoria?sim, são capazes de estar certos mas este é um lugar de excessos e é por isso que hoje, no regresso da última visita aos destroços, não posso deixar de registar mais alguns salvados que foi possível resgatar como a sandália que me faltava e o Requiem de Mozart que durante três anos me animava num avariado leitor de CD agora definitivamente calado, já se vê.eu não queria morrer, eu já só estava preparado para Te ver, sabes bem.é por isso que vou parar para perceber melhor em cada dia dos que me restam para viver que estás sempre à minha espera, no final de cada dia, a qualquer hora em que resolva invocar-Te, aconteça o que acontecer.
antónio colaço