À PROCURA DA PALAVRA
P. Vítor Gonçalves
CRISTO REI Ano A
“Em verdade vos digo: Quantas vezes o fizestes
a um dos meus irmãos mais pequeninos,
a Mim o fizestes”.
Mt 25, 40
Os pequeninos
Penso muitas vezes que, se precisássemos de uma palavra que sintetizasse o que é ser cristão e como podemos viver o seguimento de Jesus, poderíamos sempre apresentar esta espantosa parábola. Quantas vezes não desejamos “ver Deus face a face”, saber o que Ele gostaria que fizéssemos, abraçar um entendimento mais profundo sobre o sentido da vida? Quantas perguntas trazemos no peito para Lhe colocar, especialmente pelos muitos sofrimentos que a vida traz consigo, e quantas zangas pela escuridão que se abate sobre nós e d’Ele parece vir apenas um silêncio? Pode o nosso sofrimento atenuar-se quando nos debruçamos sobre o sofrimento de outros?
Jesus liberta-nos da tentação “religiosa” de ficarmos agarrados às “coisas sagradas”. Sagrado é o ser humano e tudo o que a ele diz respeito. Sagrado é o amor e a vida, a justiça e a procura da verdade, a alegria e o trabalho, o perdão e a possibilidade de renovação. Não é sagrado o “bric-a-brac” de “espiritualidades” egocêntricas que não abrem caminhos a um amor autêntico e geram dependências ou servilismos. Então, o caminho para Deus é cada homem e mulher concretos, com rosto e história, com altos e baixos, que precisam e que generosamente se dão. Perante a história de cada um, como Jesus, somos capazes de O reconhecer em cada “pequenino”? Sentimo-nos também “pequeninos”, a precisar de algo ou de alguém, ou a auto-suficiência já se tornou uma segunda veste com que tapamos as nossas debilidades? Quem nos meteu na cabeça que o ideal humano é “não precisar de ninguém”? Pode haver amor sem um mistério de dependência?
A festa da realeza de Cristo com que culminamos o ano litúrgico revela-nos um Rei que é o centro do universo mas que se volta para o milagre que é cada pessoa. Um Rei que não busca honrarias nem festas mas que vê o gesto mais discreto feito a quem é necessitado. Um Senhor que não deixa manuais de utilização da fé mas que nos confia a ousadia e criatividade do Espírito Santo. É com Cristo que aprendemos a “viver ao contrário”: grande é quem sabe ser pequeno, forte é quem assume as fragilidades e medos, feliz é quem ama sem medida, vencedor é quem não desiste apesar das derrotas, vê Deus quem cuida do abandonado sem desejo de retorno. Não se trata da lenta aprendizagem em “ser pequeninos” que a vida do reino nos pede? Onde é que Te vemos, Senhor?
NOTA
O Pe Vítor é um jovem Padre, natural do pequeno lugarejo que o Google nos revela.Fez anos um destes dias pelo que aqui lhe deixo os parabéns.É, neste momento, o Pároco da Igreja/freguesia do Sagrado Coração de Jesus, ali para as bandas do Marquês.Gostaria de poder acrescentar algo mais a esta sua vibrante reflexão sobre o Evangelho do próximo domingo, mas, para já, respeito a leitura que cada um faz para si. Era bom que avançássemos com a tal partilha mas...